quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Triângulo Amoroso


O som começa pesado. Três pares de olhos se fitam. A confusão mental pode ser ouvida até o outro lado da linha do trem. Na Bateria, os olhos verdes seguram o ritmo, mas a sua insegurança não define bem o tempo, e não define nem mesmo qual improvisação seguir; No Contrabaixo, os olhos negros definem bem os riffs, tempo exato, batida exata, a segurança pra crescer dentro da música. O Contrabaixo cria uma onda enorme que toma a multidão pelas graves notas que vão direto ao chão e te seguram. Criando estabilidade e te sussurrando: “Isso é tudo que você precisa.” A base definida por nós, em nós; E no Piano, os olhos azuis, que explodem em seus dedos a juventude, a liberdade, a emoção de estar ali, a busca de sentimentos desconhecidos, cria talvez um dos solos mais pesados, bonitos e carregados de emoção em um tempo em que mais nada é puro, mais nada é doce, nada é normal.

E de repente, tudo é Jazz.

Os olhos verdes percebem que estão ficando pra trás. O acompanhar a base já não basta. Sua juventude quer explodir. 

E de repente, tudo é Jazz.

Uma batida na caixa estoura no contra tempo da base sólida.

E de repente tudo é Jazz.

O Piano corre, e corre. Decola. A Bateria resolve seguir.

Tudo é Jazz.

O Contrabaixo, vê que está sendo passado pra trás, os vê decolar. Ele começa deixar suas notas mais firmes, mas ainda continua a segurar. Por enquanto, ele aguenta.

Lá vem a quebrada.

Os três deixam claro que suas sincronias ainda não estão abaladas. É uma puta destruição ocorrendo no palco. O baixo resolve improvisar. E em um estouro;

Os    graves  saem               do tempo .

É o fim pros olhos negros. Ele volta a tempo de recomeçar o riff.  Vê que sua tentativa de subir não deu certo, pois ainda não estava na hora. Mas será que sua hora passou? Ou será que não chegou ainda?

E de repente, tudo é Jazz.

O Piano e a Bateria dão pra ser ouvidos da lua. A sincronia, a explosão, as emoções que esses instrumentos tão distantes e dissonantes criaram foram fruto de um acaso imperdoável. 

E de repente tudo é Jazz.

É lindo. É improvável. É bonito, porque os dois sabem que logo, logo isso vai acabar. É tudo que eles querem agora. É tudo que eles precisam agora. É tudo.

Nada é definido e nem nada será.

Tudo é Jazz.










Escrito por eu
Editado por dede
Inspirado por charles mingus

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