quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Uivo dessa geração - Homenagem à Allen Ginsberg

Eu vi os expoentes da minha geração
destruídos pela procura, com respostas sem perguntas,

arrastando-se pelas favelas de madrugada
em busca por uma dose essencial de qualquer coisa,

que jovens, playboys e olheiras fundas
viajaram fumando, sentados na sobrenatural escuridão
dos miseráveis apartamentos sombriamente vazios, flutuando
sobre as avenidas da cidade, apreciando o rock,

que mal sabem, mas estão vagando
inóspitos, inertes e inconscientes pelas suas escolhas dormentes
e verdadeiras, mas impossibilitadas pela razão social,

que abrem mão dos seus gozos e opiniões,
para que possam agradar aqueles que não interessam nem um pouco,

que por mais que procurem incessavelmente
não acham forças pra demonstrar o seu real brilhantismo,

que mostrem à todos aqueles que reagem de maneira escrota
em relação ao estilo de vida dos feios, dos alienados, dos favelados,
dos miseráveis, dos loucos, dos homossexuais, dos heterossexuais, dos artistas,
dos hipsters e dos filhos da puta de plantão, pois a vida dos outros não é
interesse de ninguém além do seu próprio,

que vê o mundo politicamente correto como uma maneira de censura,
retomada da ditadura e do AI5 aparecendo agora com caras bonitas nas novelas da
globo,tirando a voz daqueles que só queriam fazer as pessoas rirem,

que apanham para a polícia nas universidades,
por motivos bobos ou bons, mas que são erroneamente mostrados pela mídia,

que tem idéias políticas, mas se cala
diante de imoral falta de participação de um povo alienado,
sentado no frente do computador se masturbando,

que acha como única forma de se expressar na sociedade,
a intervenção artística chocante, pois nada mais impressiona,

que começam a usar o sexo como rebeldia,
e não como libertação espiritual real, e perfeita da natureza,

que alucinam sobre outras realidades e verdades,
pois na verdade não aceitam a existência da sua própria,

que ao invés de viver com medo,
acostumam-se com a violência,
acostumam-se com o sangue escorrendo nos jornais populares de 25 centavos
e começam até se interessar por tais fatos,

que esquecem a importância da leitura,
pois a cabeça tão cheia de informação fúteis expele e abomina
as chances de um conhecimento útil entrar no seu lugar,

que tudo que interessa é a desinformação,
desencontro social e o isolamento sentimental necessário,

que tem mais amigos nas redes sociais do que na vida real,

que não conseguem parar, ouvir e absorver o jazz,

que não conseguem fechar os olhos e sentir o seu redor,

que não conhecem a geração beat e seus verdadeiros ideais,

que nunca souberam o que sentir,
e agora estão mais que podres por dentro.

ACORDEMOS, pois nossas individuais e egoístas cabeças
mortais se transformarão em lágrimas e sentimentos imorais e,
veremos cada jovem brilho no olhar, se espatifar no movimentado
asfalto quente da avenida Afonso Pena,

porque nós não sentimos que estamos prontos para o mundo...!


E muito menos que o mundo está pronto para nós.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Knock Knock - Daniel Beaty (Tradução)

Quando garoto, eu dividia um jogo com meu pai-
Joguei todas as manhãs, até eu fazer três anos.
Ele batia na minha porta,
E eu fingia estar dormindo até ele ficar ao lado da cama.
Então eu gostava de levantar e pular em seus braços.
"Bom dia, papai."
E o meu papai, dizia que me amava.
Nós compartilhamos um jogo,
Toc Toc,
Até o dia em que a batida nunca veio,
E minha mamãe me leva em uma viagem até depois da fazenda,
nesta estrada sem fim
Até chegarmos a um lugar com portões altos e enferrujados.
Um pequeno garoto confuso,
Eu entrei no prédio transportado nos braços de minha mãe.
Toc Toc.
Chegamos a uma sala com janelas e rostos marrons.
Atrás de uma das janelas fica o meu pai.
Eu saltei dos braços da minha mãe e corri alegremente em direção ao meu papai,
Apenas para ser confrontado por esta janela.
Eu Toc Toc tentando quebrar o vidro,
Tentando chegar ao meu pai.
Eu Toc Toc como minha Mamãe me puxa para longe
Antes do meu papai mesmo dizer uma palavra.
E por anos, ele nunca disse uma palavra.
E assim, 25 anos depois, escrevo estas palavras
Para o menino em mim que ainda espera bater na porta o seu papai.
"Papai, venha em casa, porque eu sinto sua falta.
Sinto saudades de você me acordar de manhã e dizendo que me ama.
Papai, chegue em casa, porque há coisas que eu não sei,
E eu pensei que talvez você poderia me ensinar
Como fazer a barba,
Como driblar uma bola,
Como falar com uma senhora,
Como andar como um homem.
Papai, chegue em casa, porque eu decidi há algum tempo atrás
Que eu quero ser como você, mas eu estou esquecendo quem você é."
E 25 anos mais tarde, um menino chora.
E assim que eu escrevo estas palavras e tento curar
E tento um dia ser pai.
E sonho ser um pai
Que dirá que as palavras que meu pai não disse.
"Querido filho, me desculpe por eu nunca ter voltado para casa.
Para a aula que deixei de ensinar, ouça estas palavras:
"Barbeie em uma direção, com fortes pinceladas suaves,
Para evitar irritação.
Drible a página com o brilho de sua caneta esferográfica.
ANDE COMO UM DEUS, e sua Deusa virá até você.
Um dia não vou estar lá para bater em sua porta,
Portanto, você deve aprender a bater por si mesmo.
Toc Toc nas portas do racismo e da pobreza que eu não pude destruir.
Toc Toc nas portas da oportunidade
Para o brilho perdido dos homens negros que lotam essas celas.
Toc Toc com diligência para o bem de seus filhos.
Toc Toc para mim.
Por quanto tempo você está livre,
Estes portões da prisão não pode conter o meu espírito.
O melhor de mim ainda vive em você.
Toc Toc com o conhecimento de que você é meu filho,
Mas você não são minhas escolhas.""
Sim, somos filhos de nossos pais e filhas,
Mas não somos as suas escolhas.
Pois apesar de suas ausências,
Nós ainda estamos aqui,
Ainda vivos,
Ainda respirando,
Com o poder de mudar o mundo
Um menino e uma menina de cada vez.

Toc Toc
Quem está aí?

SOMOS NÓS!


Knock Knock - Toc Toc (Som de bater na porta e tal)

Esse é meu poema preferido, como muita gente não entende inglês, resolvi traduzi-lo, pois o único lugar onde este poema foi colocado foi em vídeo, pelo próprio poeta, interpretando-o de forma fenomenal.

video

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Eu queria escrever um texto.

Eu queria escrever um texto. Será que isso vai dar certo? Vamos ver. Sobre o quê vai ser o texto? O que eu quero escrever? O que eu gosto? Eu gosto de música, carros, estradas, shows e coisas que num interessam muitas pessoas no geral. Vou escrever sobre isso. Boa. Uma viagem com os amigos pelo país para ver alguns shows. Não. Eu viajei pouco pra saber. Idiotice. Vou escrever sobre Mulheres! Sobre minha relação com elas e como eu vivo minha vida com elas. Ah, esqueci que eu não sou muito bom nisso. Eu namoro há quase dois anos. Eu não sou muito experiente no assunto. Que Idiotice. Vou escrever sobre mim. Não. Nem é interessante. Vou escrever sobre um cara niilista, existencialista e confuso, que mata alguém e passa a... PORRA. Agora que eu vi. Que Idiotice. Eu num tive nenhuma idéia original até agora. Pensei em Bukowski, Kerouac e Dostoiévski. Os últimos três livros que eu li. Minha cabeça ainda tá fresca neles. Idiotice a minha achar que eu posso criar alguma coisa. E SE eu misturar os três? Sobre um cara niilista, existencialista, irônico, que viaja pelo país, pega as mulheres, curte a música, e que mata alguém. Haha. Que Idiotice. Bem que eu queria ser assim. Às vezes seria legal não é? Livros sempre contam a vida melhorada. Bukowski mesmo falou isso. Nem pra eu criar uma frase nova eu prestei. Mas bola pra frente. O que eu faço agora? Posso me apresentar ao leitor. É claro. Pra quem não sabe, meu nome é Tito. Sim. Esse é o meu NOME. Só Tito. Sem sobrenome. Por mais que isso pareça Idiotice. Idiotice. Idiotice. Eu falo muito essa palavra, não é? É idiota falar isso. Vou parar. Prometo. Pra quê eu estou prometendo pra você? Não devo nada a você. Nem te conheço. Ou conheço? Se não conheço, o prazer é todo seu. Mentira. Minha Auto Estima nem é tão alta assim. Ele não é nem um pouco alta. Acho que ela é baixa. Mentira. Acho que eu nem tenho isso. Mas vamos continuar. Minha idade. Num interessa. Eu ainda tenho muito a viver. Espera que eu vou ali pegar um café. Peguei. Vai ver por isso estou escrevendo rápido assim. Já estou na segunda garrafa de café de hoje. Estou sozinho em casa. Está tocando um Blues Rock frenético como se não houvesse amanhã. Meus vizinhos devem me amar. Pelo menos eu pago as contas em dia. Isso eu nunca tive problema. Eu gosto de curtir um bom som. Gosto de Blues. Gosto de Jazz. Gosto de Rock. E ALTO. Nossa. Já está escurecendo e eu até agora nem comecei a escrever meu texto. Fiquei perdido nessa idéia toda. Adoro quando está escurecendo. Entra uma luz bonita pelas janelas. Deu-me vontade de fumar um cigarro. Eu não fumo. Deixa. Mais um café. Vou tomar uma pausa. Vou ali pra janela olhar pra vista cotidiana e tediosa enquanto ouço Dan Auerbach gritar com vontade. Voltei. Fiquei pensando. Devem ter milhares de pessoas aqui por volta dessa região, e nenhuma delas pelo visto está aproveitando essa hora como eu. Essas pessoas estão muito distraídas com o que não realmente interessa. Eu moro do lado de uma igreja evangélica. Eu estava logo ali fora vendo alguns fiéis agachados perto do altar. Nem quis saber por quê. Deixa pra lá. Virei meu rosto para a vista de novo. Pensei: Isso dava uma foto legal. E dava mesmo. A minha namorada ia tirar essa foto com prazer. Bateu uma saudade. Estou sentindo o cheiro dela. Chanel número cinco. Clássico.

CARA.

Quer saber? Foda se o texto.
Minha vida é melhor do que a do Kerouac, Dostoiévski e do Bukowski juntas.


...


Não é que eu acabei escrevendo sobre mim?

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Histeria Coletiva e Massificação de Pensamento

Tem coisa mais histérica que a platéia de um show? Mas por quê? É a música? É o artista? Comecei a pensar sobre isso quando fui a um festival de rock em Itu, interior de SP, o SWU. Lá comecei a perceber o tanto que a histeria de um é levada ao próximo com tanta facilidade. Fui exatamente pra ver o show da banda Queens of the Stone Age, e durante o próprio show, lembro-me apenas de poucas coisas, lembro-me de não me sentir comandando minhas atitudes, lembro-me de literalmente ser levado pela multidão, pra lá e pra cá, como um mar de gente bem movimentando, ao som do rock de Josh Homme. Reparei que a histeria que contagiei vem da massa que estava lá e exercia uma mesma função que eu. Dançar. Mas por que eu num conseguia tirar aquilo de mim? Sim, o som dos caras é pra mim um dos meus favoritos, mas eu num fui capaz de parar e olhar criticamente o show. Eu não usei droga, eu não bebi um gole de álcool e nem fumei nada. Era só eu e aquilo. Aquilo era mais forte que eu.

Comecei a me lembrar sobre um estudo que vi sobre Histeria Coletiva e me lembrei de todo aquele sentimento hipocondríaco de velhinhas na frente da tv ao ver propaganda de remédio, quando ela vê os sintomas das gripes, já começa a pensar que ela tem aquilo ou pior, que ela sente aquilo. No estudo que vi, botaram 20 pessoas num quarto e dessas 20, um era um ator, que iria naquele momento fingir uma doença contagiosa. Daí apareceria um médico responsável que diria a todos sobre a doença e sobre como ela era contagiosa. Dessas 19 pessoas restantes não teve uma que não começou a ter os sintomas da doença descrita, apenas por acreditar naquilo e estar no meio da massa, aonde via aquilo tudo acontecer. É magnífico. Nenhum parou e pensou sobre o que realmente ele, separado daquele meio, sentia.

Foi o que eu pensei em meio todo aquele calor da multidão.

Como que eu posso estar sendo levado pela multidão assim? Eu não tenho a capacidade de ir ao contratempo da música? Eu num tenho como decidir ficar parado vendo o show simplesmente e entendendo como meus mestres fazem tal obra? Na semana seguinte, já aqui em Belo Horizonte, comecei a pensar sobre isso. Pensava assim: "Num é possível! Como aquilo foi mais forte do que eu? Eu achei que eu tinha uma cabeça boa!", me lembrei de todos aqueles momentos de filosofia sobre alienação e me vi mais um alienado. Mais um carneirinho. Era o que me faltava.

O que eu não sabia era que não cabia a minha "boa" cabeça, nem à tudo o que penso em relação ao que eu vivi ali. Era o que alguém ali queria que eu fizesse? Não sei. Talvez sim. Mas num vem ao caso. O que realmente tirei daquela situação é que não importa o tanto que você pensa ou reflete sobre o dia-a-dia, sobre o que você sabe que é real pra você ou que você sabe sobre filosofia, o que você precisa realmente saber é que você precisa ficar atento todo dia às pequenas coisas que você faz. Pensar mesmo sobre o que quer fazer na hora que quer fazer. Por que às vezes nos podemos ser livres mesmo. Ninguém sabe. Mas a gente tem que ter a perspicácia e a malícia necessária para que talvez a gente seja o cara lá em cima do palco. Ou às vezes o cara dançando loucamente e esquecendo-se de tudo, a gente só tem que definir se é realmente isso que quer. O importante é simplesmente se sentir bem por fazer o que quer. É o que vale no final.