quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Haiku da Estrada (não é um Haiku)

Por que esse mundo é tão maior que eu?
Por que seu mundo é tão maior que o meu?

Coragem é o que falta.
Vontade é o que sobra.

Aprendi que pra ser grande,
tenho que ser do mundo.

Ver o mundo.

Viver o mundo.

Pra ser maior que o mundo,
basta ser.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

VII

Não me lembro direito daqueles olhos azuis.
Lembro me que era terça à tarde, de um dia de junho, e que fazia sol.
Tudo que queria era um café e um cigarro.
Juntei minhas moedas e comprei, por 70 centavos, um Marlboro light picado.
Fui até a cafeteria e não entrei.
Não podia fumar lá.
Comprei um espresso pelo lado de fora.
Pelo caixa.
Ai encontrei a dona daqueles olhos.
Era seu primeiro dia de trabalho na cafeteria, colocaram-na para administrar o caixa.
E receber os fumantes.
O espresso era encorpado, bem frutoso e um pouco ácido.
Puxei papo.
"Seria legal morar por aqui" falei.
Os olhos me fitaram.
Ela respondeu.
Começamos a conversar.
Lembro me da conversa, mas acho desnecessária a transcrição da mesma.
Me lembro mais dos olhos azuis.
Não sou homem de me encantar com olhos azuis e verdes.
Aqueles eram diferentes.
A beleza deles vinham de uma profundidade misteriosa.
Pareciam dois vitrais vaticanescos me encarando.
Eu lembro de ter pensado que ela era boa demais pra trabalhar ai.
Ela merecia tudo que alguém pudesse dar.
Fiquei com medo.
Paralisei.
Naquela Fossa das Marianas abismal, aquele azul mortífero.
Acabou o cigarro.
Fui embora.
Até esqueci de pagar o café.
A dona dos olhos me gritou.
Pelo nome.
Paguei.
Depois nem a vi.
Volto sempre no café.
Nunca a vejo lá.

Sumiu.

Será que alguém tirou ela de lá?
Poderia ter sido eu.
Aquele dia passei mal.
Fui parar no hospital.
Meu corpo recusava tudo

menos

aqueles olhos.




Hoje, me lembro perfeitamente dos olhos. Mas nem me lembro da dona.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Triângulo Amoroso


O som começa pesado. Três pares de olhos se fitam. A confusão mental pode ser ouvida até o outro lado da linha do trem. Na Bateria, os olhos verdes seguram o ritmo, mas a sua insegurança não define bem o tempo, e não define nem mesmo qual improvisação seguir; No Contrabaixo, os olhos negros definem bem os riffs, tempo exato, batida exata, a segurança pra crescer dentro da música. O Contrabaixo cria uma onda enorme que toma a multidão pelas graves notas que vão direto ao chão e te seguram. Criando estabilidade e te sussurrando: “Isso é tudo que você precisa.” A base definida por nós, em nós; E no Piano, os olhos azuis, que explodem em seus dedos a juventude, a liberdade, a emoção de estar ali, a busca de sentimentos desconhecidos, cria talvez um dos solos mais pesados, bonitos e carregados de emoção em um tempo em que mais nada é puro, mais nada é doce, nada é normal.

E de repente, tudo é Jazz.

Os olhos verdes percebem que estão ficando pra trás. O acompanhar a base já não basta. Sua juventude quer explodir. 

E de repente, tudo é Jazz.

Uma batida na caixa estoura no contra tempo da base sólida.

E de repente tudo é Jazz.

O Piano corre, e corre. Decola. A Bateria resolve seguir.

Tudo é Jazz.

O Contrabaixo, vê que está sendo passado pra trás, os vê decolar. Ele começa deixar suas notas mais firmes, mas ainda continua a segurar. Por enquanto, ele aguenta.

Lá vem a quebrada.

Os três deixam claro que suas sincronias ainda não estão abaladas. É uma puta destruição ocorrendo no palco. O baixo resolve improvisar. E em um estouro;

Os    graves  saem               do tempo .

É o fim pros olhos negros. Ele volta a tempo de recomeçar o riff.  Vê que sua tentativa de subir não deu certo, pois ainda não estava na hora. Mas será que sua hora passou? Ou será que não chegou ainda?

E de repente, tudo é Jazz.

O Piano e a Bateria dão pra ser ouvidos da lua. A sincronia, a explosão, as emoções que esses instrumentos tão distantes e dissonantes criaram foram fruto de um acaso imperdoável. 

E de repente tudo é Jazz.

É lindo. É improvável. É bonito, porque os dois sabem que logo, logo isso vai acabar. É tudo que eles querem agora. É tudo que eles precisam agora. É tudo.

Nada é definido e nem nada será.

Tudo é Jazz.










Escrito por eu
Editado por dede
Inspirado por charles mingus